A farmácia magistral
representa na atualidade um importante segmento de mercado gerador de
oportunidades para o profissional farmacêutico. Na farmácia magistral, este
profissional encontra condições favoráveis não só para sua ascendência
sócio-econômica, mas também para a completa realização profissional, podendo
exercer plenamente uma diversidade de atividades inerentes ao âmbito da
profissão farmacêutica.
O número de farmácias
magistrais tem crescido no Brasil e em alguns países como nos Estados Unidos da
América, Portugal, Espanha, Canadá, Austrália, Nova Zelândia dentre outros. O
motivo para este crescimento está provavelmente relacionado à vantagem da
terapêutica personalizada a qual permite a adequação de doses, associação de
fármacos e escolha da forma farmacêutica mais adequada ao paciente.
Além disso, através
da manipulação é possível preparar medicamentos órfãos, inclusive
aqueles retirados do mercado pela indústria farmacêutica por razões econômicas
ou outras, viabilizando também outros usos para medicamentos tradicionais.
Contudo, apesar das
vantagens do medicamento manipulado, a farmácia magistral encontra alguns
obstáculos à sua consolidação e estabilidade no mercado. O maior destes
obstáculos é a perda da credibilidade junto à classe médica, órgãos sanitários
e sociedade decorrente de desvios na qualidade de alguns
medicamentos manipulados. Parte deste descrédito no medicamento manipulado
deve-se também à suposição de que o mesmo não seguiria os mesmos critérios
rígidos de controle de qualidade do medicamento industrializado e
conseqüentemente não teria a mesma eficácia e segurança deste.
A despeito disso,
sabe-se que a qualidade é construída durante o processo produtivo e não
simplesmente testada no produto final. Independente das discussões que se façam
a respeito de como controle de qualidade deve ser aplicado no medicamento
magistral, é fato que a qualidade é um atributo básico e essencial para
garantir a eficácia e segurança de qualquer medicamento seja ele magistral ou
industrializado.
O medicamento
magistral ideal é aquele manipulado corretamente; qualquer que seja a forma de
apresentação; de longo, médio ou curto prazo de validade; capaz de atender a
finalidade médica para a qual foi prescrito e que seja incapaz de produzir
efeitos indesejáveis sobre o organismo humano direta ou indiretamente;
decorrente da falta ou erros de padronização de dosagens, qualidade da
matéria-prima, na uniformidade, estabilidade ou por falhas nos procedimentos
farmacotécnicos.
Manipular um
medicamento com qualidade não significa apenas prepará-lo na dose
correta, com uniformidade, estabilidade e características organoléptica
adequada. É preciso também comprovar que o mesmo apresenta conformidade para
tais atributos. Esta comprovação é de fato efetivada através dos ensaios de
controle de qualidade.
Especificamente no
contexto da farmácia magistral é preciso que todas as etapas envolvidas no
processo magistral sejam controladas e monitoradas de forma a assegurar a
qualidade do produto final. O monitoramento do processo produtivo magistral
poderia ser realizado através do controle da qualidade de matérias-primas e
embalagens, de amostras de produtos acabados das diversas formas farmacêuticas
preparadas, do controle do ambiente de manipulação, dentre outros parâmetros
que funcionam como indicadores deste processo.
Podemos dimensionar e
refletir sobre a importância do controle de qualidade na farmácia
magistral com um questionamento simples e lógico:
“Você tomaria um
medicamento sabendo que a empresa responsável pelo seu preparo não tem a
certeza de que a substância contida no mesmo é realmente aquela declarada no
rótulo e está presente na concentração descrita?”
O controle da
qualidade constitui em uma ferramenta importante para assegurar a eficácia e a
segurança do medicamento manipulado, contribuindo na conquista da credibilidade
e solidez da instituição Farmácia Magistral. Além disso, a partir da resolução
RDC 33/2000 a farmácia magistral deve possuir na sua infra-estrutura uma área
ou local de controle de qualidade devidamente equipado para a realização de
testes básicos para o controle de qualidade de matéria-prima e produto acabado,
como a determinação dos caracteres organolépticos, solubilidade, pH, peso,
volume, ponto de fusão, densidade, peso médio, teor alcoólico, viscosidade,
entre outros. (ANVISA, 2000).
Estes testes básicos
por serem simples, são facilmente aplicáveis e úteis na verificação da
verificação da identidade de uma determinada substância, na verificação de uma
eventual degradação da matéria-prima sob condições adversas, bem
como na avaliação de determinadas características de produtos acabados. Em
vários países europeus, a realização de testes básicos tem sido
endossada por várias associações farmacêuticas para o uso a nível
periférico de distribuição, como em farmácias, para verificar a identidade de
substâncias farmacêuticas todas as vezes que houver possibilidade de confusão e
algumas vezes para excluir a possibilidade de degradação total ou adulteração
da matéria-prima (WHO, 1986).
A realização de
testes básicos de controle de qualidade não abole, em nenhuma circunstância, a
necessidade de atendimento aos requerimentos completos relacionados nas
monografias farmacopéicas. A legislação sanitária faculta à farmácia
terceirizar o controle de qualidade das matérias-primas e preparações
manipuladas, em laboratório tecnicamente capacitado para este fim, mediante
contrato formal (ANVISA, 2000). É permitido a terceirização de análises
complexas, tal como a determinação do teor e pureza microbiológica (ANVISA,
2000).
Os testes de controle
de qualidade, incluindo os testes básicos devem ser realizados por
profissionais qualificados, como farmacêuticos, químicos ou técnicos com
conhecimento em química analítica (WHO, 1986).
Contudo, o controle
de qualidade na farmácia magistral representa um importante desafio pela
diversidade das matérias-primas utilizadas, incluindo aquelas que não
apresentam métodos de análises farmacopéicos e necessitam portanto de
validação. Este desafio aumenta ainda mais em se tratando do produto acabado,
onde os métodos farmacopéicos não abragem a grande diversidade de formulações
possíveis e a validação de métodos analíticos específicos torna-se tecnicamente
e economicamente inviável devido múltipla possibilidade de variação de
composição, forma farmacêutica e excipiente.
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