José Bonato
Do UOL, em Ribeirão Preto (SP)
A Justiça Federal de Franca (400 km de São Paulo) condenou um casal a
devolver cerca de R$ 1 milhão aos cofres públicos por fraude contra o
Programa Farmácia Popular, do governo federal. Segundo o Ministério
Público Federal, a dupla forjava vendas fraudulentas de remédios com
descontos de até 90% e mandava a conta para o governo reembolsar o
abatimento.
Em algumas transações, foram utilizados dados cadastrais de pessoas
mortas, segundo a procuradora da República Daniela Pereira Batista
Poppi, 37. As irregularidades praticadas pela dupla, dona de duas
farmácias, somam R$ 2,5 milhões, mais da metade dos R$ 4 milhões que
teriam sido desviados na cidade por farmácias em transações parecidas
entre 2007 e 2012.
Além do casal, que responde a outros processos semelhantes, mais 28
donos de farmácias em Franca são acusados pelo mesmo crime. As ações
foram ajuizadas no início de junho deste ano.
De acordo com a procuradora, o casal condenado chegou a adquirir uma
fazenda e veículos com os valores embolsados. Os bens estão
indisponíveis e deverão ir a leilão para cobrir o prejuízo.
O casal Virgílio Brazão de Paula e Viviane Duarte Brazão de Paula foi
condenado por prática de estelionato qualificado. Ele pegou cinco anos e
quatro meses de prisão, e Viviane, dois anos e dez meses. O MPF
recorreu da decisão contra Viviane por considerar a pena baixa.
Procurado por telefone pela reportagem do UOL, o
advogado dos comerciantes, Paulo Sergio Severiano, não foi encontrado.
Em entrevista à imprensa, ele afirmou que vai recorrer da sentença
porque “não houve parâmetro para a condenação e para a pena imposta”.
Crítica ao programa
A procuradora da República criticou a fiscalização do Ministério da
Saúde em relação às farmácias credenciadas no Programa Farmácia Popular.
Segundo ela, é muito fácil fraudar os cofres públicos.
“Basta abrir uma farmácia e simular as vendas de remédios.” Para
Daniela, a comprovação da venda dos medicamentos deveria ser feita por
biometria, em vez do fornecimento do CPF.
O Ministério da Saúde (MS) informou que desde 2011 vem intensificando
os mecanismos de controle e fiscalização sobre as mais de 20 mil
farmácias privadas que participam do programa. As irregularidades em
Franca, segundo o Ministério da Saúde, foram identificadas em 2009.
No ano passado, foram descredenciadas 235 farmácias e aplicadas multas
em 569 estabelecimentos por irregularidades, em todo o país.
Criado em 2004, o Programa Farmácia Popular já beneficiou 13 milhões de
pessoas, segundo o governo. Para evitar fraudes, o Ministério da Saúde
orienta os consumidores a exigir cupom fiscal e a denunciar eventuais
irregularidades no telefone 136, da ouvidoria do órgão.
Fonte: http://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2012/10/17/casal-tera-de-devolver-r-1-milhao-ao-governo-por-fraudar-farmacia-popular-em-franca-sp.htm
Especialistas divergem sobre eficácia do Programa Farmácia Popular
Foto: Alexandra Martins
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José Miguel Júnior |
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Especialistas divergiram nesta terça-feira na Câmara dos Deputados
sobre a eficácia do Programa Farmácia Popular do governo federal. O
programa possui uma rede própria de farmácias e ainda mantém parceria
com farmácias e drogarias da rede privada, chamada de "Aqui tem Farmácia
Popular".
Em audiência promovida pela Comissão de Seguridade Social e
Família, o diretor do Departamento de Assistência Farmacêutica do
Ministério da Saúde, José Miguel do Nascimento Júnior, afirmou que o
programa é eficaz e tem provocado a diminuição de internações por
doenças crônicas, como diabetes e hipertensão.
Já o professor Augusto Afonso Guerra, da Universidade Federal
de Minas Gerais, apresentou estudo que indica que os altos custos do
Farmácia Popular levam o governo federal a gastar muito mais do que o
necessário com a compra de medicamentos para a população.
O Farmácia Popular foi criado em 2004, para ampliar o acesso
das pessoas aos remédios para as doenças mais comuns. Segundo José
Miguel, atualmente são 20 mil farmácias credenciadas no programa em
3.368 municípios. Segundo ele, 76% dos medicamentos do programa são
destinados a tratar diabetes, hipertensão e asma e são fornecidos
gratuitamente à população.
A ação Aqui Tem Farmácia Popular conta com 25 itens: 14 são
distribuídos gratuitamente e o restante é vendido com até 90% de
desconto. São medicamentos para hipertensão, diabetes, asma, colesterol,
osteoporose, glaucoma, rinite, doença de Parkinson, além de
contraceptivos e fraldas geriátricas.
Denúncias de fraudes
Denúncias veiculadas pela imprensa dão conta de fraudes no Farmácia
Popular, como o uso de CPFs de pessoas já falecidas para a aquisição dos
remédios e vendas inexistentes que são cobradas do governo pelas
farmácias.
O diretor José Miguel explicou que, para evitar fraudes, o
sistema do Farmácia Popular já faz o cruzamento dos CPFs com dados
atualizados diariamente pela Receita Federal. Além disso, os
funcionários das empresas cadastradas no programa só podem acessar o
sistema com senha específica e de computadores autorizados a realizar as
transações.
No Farmácia Popular, para a pessoa levar o medicamento para
casa, de graça ou com desconto, é necessário a apresentação da receita,
CPF, um documento com foto e a assinatura no cupom vinculado. Qualquer
ação suspeita pode ser denunciada pelo telefone 136. Em caso de
irregularidade, a farmácia será penalizada, podendo ser descredenciada
do programa.
O dirigente ainda declarou que, como a receita médica para a
aquisição dos remédios no programa tem que ser validada de quatro em
quatro meses, as pessoas têm feito mais consultas na rede de atenção
básica que antes.
Orçamento maior
A proposta do Orçamento da União para 2013 prevê a destinação de
aproximadamente R$ 2 bilhões para o programa Farmácia Popular e quase a
metade, R$ 1,1 bilhão, para o programa Farmácia Básica, que é mantido
pelo Sistema Único de Saúde (SUS) com a participação dos estados,
municípios e do governo federal.
José Miguel afirmou que o orçamento para o Farmácia Popular
cresceu por causa da ampliação da cobertura, uma vez que novas doenças
estão sendo atendidas no programa e mais remédios vão ser oferecidos
gratuitamente. "O programa já vem mostrando que aquelas doenças cuja
oferta é gratuita nas drogarias são doenças com indicativo de queda nas
internações das patologias associadas aos medicamentos disponíveis no
Farmácia Popular. Portanto, temos aí um ganho indireto, no qual o
sistema de saúde deixa de gastar com internações, com procedimentos, com
complicações, trazendo uma efetividade maior para o SUS e para os
programas de saúde."
Por outro lado, o professor Augusto Guerra afirma que, hoje, a
rede própria de farmácias básicas do SUS sai mais barata do que o custo
que o governo fixou para o programa Farmácia Popular. "Isso acontece
pelo nosso sistema de regulação de preços. O governo não pode fixar um
preço menor para pagar as farmácias privadas do que o preço que ele
mesmo fixou ao permitir que o medicamento fosse lançado no mercado.
Então, ao colocar o preço no Farmácia Popular, o governo define um preço
muito mais alto do que o preço real que eu obtenho nas licitações. Com
esse modelo de compras públicas por licitação em grandes volumes, eu
obtenho, na rede própria, uma relação de custo por dispensação e de
custo por estrutura e custo de tratamento muito mais baixa do que ao
fazê-la na rede privada."
O diretor José Miguel explicou que o governo aceita que os
medicamentos da Farmácia Popular sejam mais caros que os da Farmácia
Básica porque são modelos distintos. “Não é compreensível comparar o
preço de uma aquisição pública de um estado, de um município que faz uma
licitação para comprar direto de uma indústria farmacêutica, que compra
quantidades bastante grandes - 4 milhões, 5 milhões, 10 milhões de
comprimidos –, com o preço de uma drogaria que compra, no mês, quatro,
cinco caixas desse medicamento."
O deputado Marcus Pestana (PSDB-MG), que solicitou a
audiência, acredita que as verbas orçamentárias para a compra de
medicamentos indicam uma "clara tendência" de substituição do modelo do
Farmácia Básica para o Farmácia Popular - o que ele critica. "Existem
dois modelos que procuram suprir a demanda da população por medicamentos
na área básica. Fica evidente, pela dinâmica orçamentária, que o
Farmácia Popular vai matar o programa de assitência farmacêutica
básica", destacou.
Fonte: http://www.cenariomt.com.br/noticia.asp?cod=242407&codDep=1
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