As famosas garrafadas, vendidas em feiras livres e até pela internet, prometem curar vários tipos de doença. Mas especialistas alertam: elas são um perigo para a saúde.
A coordenadora de plantas medicinais do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), a bióloga Fabiana Gomes Ruas, explica que qualquer erva deve ser usada como forma preventiva ou para auxiliar algum tratamento, e nunca para substituir o remédio convencional. "Muitas plantas são tóxicas e podem causar alergias, diarreias e fechamento da glote, levando à morte", alerta.
A farmacêutica Fabiana Passamani, conta que esses produtos são preparados sem critérios de dosagem, misturados com vinho, cerveja ou cachaça. "E isso pode agravar uma doença".
HOSPITAL DE URGÊNCIA DE TERESINA - PI
-- Morte de mulher possivelmente intoxicada por "garrafada". --
É lamentável a morte de uma senhora no HUT, possivelmente por intoxicação de uma “garrafada” produzida com ervas preparadas por um curandeiro.
O uso de plantas como medicamentos é milenar, mas até que ponto isto é seguro?
Muitas plantas possuem em sua composição, substâncias que alteram funções de nosso organismo, chamamos estas substâncias de princípios ativos. São substâncias químicas, sintetizadas pela planta e que tem ações sobre substâncias presentes em nosso organismo e que exercem funções importantes. Em alguns casos, estas plantas, ou partes delas, podem ser utilizadas diretamente como medicamentos eficazes.
Porém, como todo medicamento, seu uso tem que ser racional. Muitas pessoas imaginam que por se tratar de um produto natural, o mesmo se não fizer bem, é inócuo a saúde. Não é verdade. Se a substância ativa presente em uma erva com propriedades medicinais faz alguma modificação ao nosso organismo, tem também a possibilidade de causar intoxicações, se utilizada em excesso, se o indivíduo for alérgico a esta, se houver alguma outra doença que a contra-indique ou se associada a outras substâncias.
A associação de plantas pode modificar o efeito destas, a ponto de torná-las tóxicas ou pode anular o efeito que o uso de somente uma erva medicinal traria. Isto vale tanto na associação em plantas como com medicamentos químicos. Nunca se deve utilizar a associação de mais de duas plantas, sob o risco de torná-la tóxica ou ineficaz. Muito menos utilize plantas medicinais se já está usando medicamentos prescritos, sem antes consultar o médico ou um farmacêutico.
Já foi detectado em mercados de Teresina, “garrafadas” que afirmavam conter até 21 ervas medicinais em sua composição. Do ponto de vista científico, é uma barbaridade e uma irresponsabilidade o uso de tais produtos. A Vigilância Sanitária do Estado e do Município tem que ficar atentas a estas práticas perigosas e irresponsáveis e autuar estas pessoas que se autodenominam Doutores Raiz.
Se no Brasil realizássemos uma pesquisa mais rigorosa de muitos óbito que ocorrem em pessoas em tratamento, certamente constataríamos não uma morte esporádica pelo uso de “garrafadas”, mais muitas outras, em que pessoas são induzidas ao abandono de um tratamento médico sério por um tratamento sem nenhum respaldo científico. Pois pessoas com carência de educação e informação pensam da seguinte forma: Se determinada erva serve para determinada doença, é muito melhor utilizar uma mistura de várias ervas que servirão para várias doenças ao mesmo tempo, com isso não precisarei tomar mais de um medicamento.
Hoje, o que se busca é encontrar plantas com princípios ativos, extraí-los, realizar todos os teste de toxicidade e eficácia e preparar medicamentos com quantidades conhecidas do principio ativo. Ou se utilizar medicamentos preparados diretamente com partes de uma planta, que se conheça a quantidade exata deste princípio ativo presente, como uma forma de evitar intoxicações.
Assista abaixo um vídeo produzido por um aluno do curso de farmácia, onde mostra o preparo de uma garrafada por um dos muitos "Doutores Raiz" que existem pelo Brasil.
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